domingo, dezembro 30, 2007

Receita para um Feliz Ano Novo


Há muito que tenho andado arredada desta minha "casa", por motivos de ordem vária.

Mas achei que não podia terminar o ano de 2007 sem deixar aqui uma reflexão sobre aquilo que se costuma exprimir nesta Quadra - votos de um Feliz Ano Novo.

Mas, não basta desejar que o novo ano seja Feliz, Próspero, Óptimo, Excelente... e tantos outros adjectivos que costumamos usar.

Há coisas que não podemos mudar, é certo, que nos vão cair em cima, sem que nada possamos fazer, mas muitas há que estão ao nosso alcance para fazer com que o Ano que vai começar seja realmente NOVO - atitudes e acções que contribuam para um mundo melhor, mais justo, mais solidário e pacífico.

Parecem apenas chavões mas, se não acreditarmos que ainda podemos revertar a situação actual,
enquanto não interiorizarmos a ideia de que podemos e devemos mudar os males da globalização, que somos actores reais nesta "tragi-comédia global", cujo guião pode ser alterado por cada um de nós, então sim, podemos continuar apenas assistindo de cadeira, momentaneamente incomodados com as notícias e imagens que nos entram pela casa dentro, fazendo de conta que nada podemos fazer e continuando com as nossas vidinhas - assim é que o mundo não mudará mesmo !


Para você ganhar um belíssimo Ano Novo...

Não precisa fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na Gaveta.

Não precisa chorar de arrependimento

pelas besteiras consumadas

nem parvamente acreditar que por decreto

da esperança a partir de Janeiro

as coisas mudem e seja claridade,

recompensa, justiça entre os homens e as nações,

liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

direitos respeitados, começando pelo direito

augusto de viver.

Para ganhar um ano-novo

que mereça este nome, você, meu caro,

tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo,

Eu sei que não é fácil mas tente,

experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo

cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

1 comentário:

Anónimo disse...

TIMOR: CONFLITOS INTERNOS E INTERESSES ESTRANGEIROS


Barbedo de Magalhães
professor catedrático da Faculdade de Engenharia
do Porto e presidente do IASI
Em 18 de Janeiro de 2008, dia seguinte ao do lançamento do seu livro sobre Timor na Fundação Mário Soares, o autor teve uma longa conversa com o embaixador da Austrália em Lisboa. Preocupado com a situação em Timor, disse ao embaixador que considerava imprescindível que o novo primeiro-ministro, Kevin Rudd, um velho amigo de Timor e um amigo pessoal de Ramos-Horta, controlasse as forças australianas colocadas em Timor, e os seus serviços secretos. De facto, em governos anteriores, estas tinham estado mais ao serviço da Austrália e de interesses económicos de algumas petrolíferas do que da estabilidade e da democracia no novo país.

A ineficácia dos serviços de informações das forças internacionais, quase exclusivamente australianas, que não souberam prever e evitar os ataques contra as duas principais figuras do Estado timorense, nem capturar ou neutralizar os militares que apoiavam o major Reinado, é um sinal de que, até ao dia do atentado, a política herdada do Governo anterior ainda não tinha sido mudada no terreno.

Convém não esquecer que em Março de 2002 o Governo de Howard retirou a Austrália dos tribunais internacionais relacionados com fronteiras marítimas. Em Dezembro desse ano, uma semana depois do MNE Downer ter ameaçado o PM timorense de lhe dar uma lição de política, a casa de Alkatiri foi revistada por um australiano e incendiada. A fúria de Downer contra Mari resultava de este não ceder às excessivas e ilegais exigências australianas relativamente ao petróleo do mar de Timor.

Aos exacerbados interesses económicos estrangeiros soma-se uma diferença de estratégias e um conflito quase permanente entre Mari e Xanana.

Ela vem dos anos oitenta, quando Xanana substituiu a política radical e exclusivista da Fretilin, por uma política mais realista e abrangente, de inclusão de todos os timorenses, mesmo que colaborassem com o ocupante. Nesse quadro assumiu o compromisso de que Timor-Leste não se tornaria numa "ameaça à estabilidade da área" e de que se oporia à eventual tomada de poder por qualquer partido hegemonista e pouco democrático.

A Constituição foi feita para marginalizar Xanana do processo político. Esta marginalização, os conflitos com a Igreja e o clima de medo criado pelo ex-ministro Lobato contribuíram fortemente para a eclosão da crise de 2006. A reacção de Xanana, tipicamente de guerrilheiro, também não foi a mais feliz.

Ao afirmar que o actual governo, de maioria parlamentar, era ilegítimo, Alkatiri continuou a tentar destruir politicamente um líder essencial para Timor. Com isso enfraqueceu a democracia, debilitou o estado e contribuiu para que este ficasse ainda mais dependente de forças e interesses estrangeiros.

(1) Barbedo de Magalhães, António Pinto - Timor-Leste - Interesses internacionais e actores locais. Afrontamento. Porto, 2007