quinta-feira, junho 26, 2008

"Não sou um exemplo do que é viver neste mundo" - José Saramago

Entrevista de Maria José Oliveira (PÚBLICO) e Paulo Magalhães (Renascença),15.06.2008.

Ainda em convalescença, José Saramago diz que a pneumonia lhe fez "bem". Porque "relativizou tudo" e lhe deu "serenidade"

José Saramago afirma que foi a primeira vez que se "atreveu" a dizê-lo: se existe alguma mensagem nos seus livros, ela está no momento em que um cão lambe as lágrimas de uma mulher, no romance Ensaio sobre a Cegueira. É por essa passagem que o Prémio Nobel da Literatura (1998) gostaria de ser recordado no futuro.

Em conversa com o PÚBLICO e a Rádio Renascença, Saramago comentou a suposta gaffe de Cavaco Silva, lamentou o espírito de resignação dos portugueses e falou sobre a pneumonia que o deixou às portas da morte.
Em Lisboa, onde vai ficar até meados de Julho, continua a escrever todos os dias as páginas do seu próximo romance, A Viagem do Elefante, que deverá estar concluído em Agosto.

Há muita gente em Portugal que não gosta da sua obra. É uma pessoa polémica...
É estranho que comecemos por aí, pelas pessoas que não gostam daquilo que eu digo ou daquilo que eu faço. Não vou dizer que lamento. Faço o meu trabalho e não roubei o lugar a ninguém. Na arte não se rouba o lugar: ocupa-se o seu próprio lugar. Foi o que eu fiz.
Há posições extremadas. Ou se ama ou se odeia.
Acho muito bem. Não estamos com meias-tintas. Mas há ainda uma outra categoria, mais reduzida, de pessoas que não leram e não gostam.

Que imagem tem do seu país e dos seus compatriotas?
Tenho sido severo, algumas vezes. Mas houve uma altura em que disse que gostava daquilo que este país fez de mim - é um dos melhores elogios que se pode fazer.
Verifico com pena que continuamos com pouca ousadia no que se refere a projectos e à sua realização.
Comparo o nosso país com uma pessoa que está na borda do passeio à espera que alguém a ajude a atravessar para o outro lado. Estamos sempre à espera de alguém que venha salvar a pátria. O grande problema nacional é a mediocridade e a resignação à mediocridade. O que é um pouco contraditório. Porque temos sonhos de grandeza e o Campeonato Europeu de Futebol é um caso.

Fala em falta de espírito crítico. Onde é que isso se nota no dia-a-dia?

No comportamento dos cidadãos. Há quem opine criticamente nos jornais. Mas o cidadão médio tem uma preguiça enorme em riscar as opiniões que não sejam aquelas que se trocam por miúdos ao longo do dia. Há três ou quatro ou 50 problemas grandes no mundo. Não vejo a participação dos portugueses nos debates de todas essas coisas.

De onde é que vem essa falta de participação?
Não sei se é congénito, não sei o que se passa connosco.
Connosco incluindo José Saramago?
Incluindo-me a mim. Se não fosse isso, seria muito melhor do que aquilo que sou. Que já não estou nada mau. Hoje é Presidente da República o homem que era primeiro-ministro quando decidiu ir para Lanzarote...Sim, senhor. Bom proveito vos faça.
Esse primeiro-ministro é hoje Presidente da República. Como é que vê o seu mandato?
Nem olho para ele. Refiro-me ao mandato. Há pouco falou-se nas pessoas que não gostam de mim. Pronto, eu também não gosto do professor Cavaco Silva. É o meu direito. E de vez em quando ele dá-me razão. Há dias saiu-se com essa do dia da raça.
Não foi um deslize, uma gaffe?
Se ele disse dia da raça é porque pensa efectivamente que deveria chamar-se assim, embora não ouse fazer essa proposta.
O Presidente deveria ter feito um pedido de desculpas público?
Os políticos dificilmente pedem desculpa às pessoas a quem de alguma maneira ofenderam.
Consideram-no uma pessoa céptica ou pessimista. Revê-se nisso?
Não sou uma espécie de narciso que se vê ao espelho e diz "olha que bom, que pessimista que tu és". Parece que o que é bom é ser optimista. Mesmo que não haja nenhuma razão para isso. Há pessoas que têm razões para estarem contentíssimas com o mundo, têm tudo o que querem.
O que é que lhe falta?
Não me falta nada. Mas eu não sou um exemplo do que é viver neste mundo. Sou um privilegiado. Mas não posso estar contente.
O mundo é o inferno. Não vale a pena ameaçarem-nos com outro inferno porque já estamos nele. A questão é saber como é que saímos dele. Saul Bellow, também Nobel da Literatura, dizia que à medida que ia envelhecendo ia encurtando frases e as suas obras foram ficando mais magras...
Escrevo menos frases longas e o livro fica mais pequeno. A idade tem uma influência grande. Não é agora, aos 85 anos, que eu poderia lançar-me a escrever o Memorial do Convento ou o
Evangelho segundo Jesus Cristo. Porque olho para o calendário e pergunto: ainda estarei vivo daqui por um ano?
Pensou na morte quando esteve doente?
Era inevitável que pensasse. Estive muito perto dela. Se me falarem sobre a morte digo: sim, já sei, estive à porta. Não cheguei a entrar, mas estive à porta.
Aceitei essa probabilidade com uma serenidade enorme. Serenidade que conservo hoje. De certa forma, diria que me fez bem aquela doença. Relativizou tudo.
Estou a escrever um livro [A Viagem do Elefante] e não quero morrer antes de acabá-lo. Uma das minhas preocupações quando estava entre cá e lá, numa espécie de limbo em que a consciência de mim mesmo não era absoluta, era a de que talvez não pudesse acabar o livro. Afinal, ainda hoje escrevi mais uma página. Lá para Agosto estará terminado.
Como é que gostava de ser recordado? O Nobel português?
Gostaria de ser recordado como o escritor que criou a personagem do cão das lágrimas [Ensaio sobre a Cegueira].
É um dos momentos mais belos que fiz até hoje enquanto escritor.
Se no futuro puder ser recordado como "aquele tipo que fez aquela coisa do cão que bebeu as lágrimas da mulher", ficarei contente.
Se alguém procurar naquilo que eu tenho escrito uma certa mensagem, atrevo-me pela primeira vez a dizer que essa mensagem está aí.
A compaixão dessa mulher que tenta salvar o grupo em que está o seu marido é equivalente à compaixão daquele cão que se aproxima de um ser humano em desespero e que, não podendo fazer mais nada, lhe bebe as lágrimas.

quarta-feira, junho 18, 2008

Refugiados no mundo atingiram em 2007 o número de 37,4 milhões

Foto: http://tempodeviagem.blogspot.com/2007/06/dia-mundial-dos-refugiados.html

Os continuados conflitos no Iraque e no Afeganistão constituem a principal causa para o segundo aumento anual consecutivo de refugiados e deslocados no mundo, que chegaram ao número "sem precedentes" de 37,4 milhões de pessoas em 2007, segundo relatório divulgado ontem pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Esta subida repetida - voltando a contrariar a tendência de baixa registada entre 2001 e 2005 - é "motivo de preocupação", avaliou em comunicado o alto-comissário, António Guterres, alertando que "uma mistura complexa de desafios mundiais" pode "gerar um risco acrescido de deslocações forçadas no futuro".

"A degradação ambiental provocada pelas alterações climáticas" e o "muito forte aumento dos preços que atinge com especial dureza os pobres e constitui fonte de instabilidade" estão entre esses desafios.
Só sob a responsabilidade do ACNUR estavam no final do ano passado 11,4 milhões de refugiados (eram 9,9 milhões em 2006), aqueles que, por definição da ONU, se refugiaram em países que não os de origem, em fuga de conflitos ou perseguições. Mais de metade dessas pessoas são afegãos (3,1 milhões), que vivem no Paquistão ou no Irão, e iraquianos (2,3 milhões), a viverem na Síria ou na Jordânia.

O número de deslocados - aqueles que deixaram as suas casas devido a violência ou catástrofes naturais mas permanecem no país de origem - subiu também, para os 26 milhões de pessoas, dos 24,4 milhões registados em 2006. A razão principal deste aumento deveu-se à "situação instável no Iraque", apontou Guterres, precisando que o número de deslocados dentro das fronteiras iraquianas disparou de 1,8 milhões para 2,4 milhões em apenas um ano.
No ano passado, precisa o documento do ACNUR, foram feitos 647.200 pedidos de asilo - o primeiro aumento nos últimos quatro anos, com a causa dominante desse acréscimo (cifrado em cinco por cento) a ser identificada pelo alto-comissário, de novo, com o "vasto número de iraquianos" que procuraram protecção internacional na Europa.Os principais países de destino nestes pedidos de asilo são os Estados Unidos, a África do Sul, Suécia, França, Reino Unido, Canadá e Grécia.

Guterres, numa entrevista ontem dada ao diário britânico The Independent, aproveitou para sublinhar que "é muito importante que os europeus percebam que este não é o momento para mandar os iraquianos de volta". "Fazê-lo envia uma mensagem muito negativa para a Síria e para a Jordânia, que abrigam centenas de milhares de refugiados. Não é difícil imaginar o que aconteceria se a Síria e a Jordânia decidissem expulsar estas pessoas", defendeu.

quinta-feira, junho 12, 2008

"ONDE NASCE O SOL" - "A HERO'S JOURNEY"

XANANA GUSMÃO, ON "A HERO'S JOURNEY" Part 1 A

Autoria: Grace Phan, Singapura

Fonte: http://br.youtube.com/watch?v=IHHtsKdTGqY

( Ver documentário completo, em partes, no Youtube )

"ONDE NASCE O SOL" - Versão Portuguesa ( brevemente disponível em Portugal )

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Espereranças Rasgadas
Por Xanana Gusmão

Timor
Jazigo de uma alma
Que não pereceu
Nas névoas
De uma história que se perdeu
Na distância das lendas

Timor
Montanha de ossos
De uma valentia
Que bocas guerreiras
Abençoaram seus filhos
Para a perenidade dos dias

Timor
Onde a morte
só se consagra no combate
Para deter a vida
E contar a história às crianças
Que nascem para recordar

Timor

Onde as flores
Também desabrocham
Para embelezar
as sepulturas desconhecidas
‘em noites frias, infindáveis’

Timor
Onde as pessoas
nascem para morrer
pela esperança
em rasgos de dor
em rasgos de carne
em rasgos de sangue
em rasgos de vida
em rasgos de alma
em rasgos
da própria liberdade
que se alcança..
com a morte!

Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil

OIT alerta que 75 milhões de crianças não frequentam escola
Cerca de 75 milhões de crianças no mundo não têm acesso à educação e começam a trabalhar muito cedo, denunciou hoje a Organização Internacional do Trabalho (OIT) por ocasião do Dia Mundial contra o Trabalho Infantil.
«Devemos agir para que toda a criança tenha direito à educação e para que não precisem de trabalhar para sobreviver», declarou o director-geral da OIT, Juan Somavía.
A educação é o assunto central este ano no Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, assim como a necessidade de romper o círculo vicioso criado pela pobreza e pela participação das crianças em actividades económicas.
No total, cerca de 165 milhões de crianças entre os 4 e 15 anos trabalham no mundo, segundo a OIT, e destas mais de 100 milhões estão na agricultura, em áreas rurais onde o acesso às escolas é raro.
A disponibilidade de professores e o acesso aos meios de comunicação são muito limitados, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
«Para muitas crianças no mundo, em particular para aquelas de famílias pobres, o direito à educação continua a ser um conceito abstracto, muito distante da realidade do dia a dia», acrescentou Somavía.
A OIT, o Unicef e outras agências consideram que a educação é a melhor resposta para reduzir e, posteriormente, para erradicar o trabalho infantil, e que é necessário, além disso, impulsionar a igualdade de género, pois as meninas são sempre as mais prejudicadas pela falta de educação.
Fonte: DD/Lusa

Música: "IMAGINE" - John Lennon

“Criança tem que brincar. Aprender a ser feliz.

Entrem nessa campanha vocês também: por um mundo sem trabalho infantil.”
Gilberto Gil

quarta-feira, junho 11, 2008

terça-feira, junho 10, 2008

O que é a Fibromialgia


A fibromialgia é uma síndroma crónica caracterizada por queixas dolorosas neuromusculares difusas e pela presença de pontos dolorosos em regiões anatomicamente determinadas. Outras manifestações que acompanham também as dores são a fadiga, as perturbações do sono e os distúrbios emocionais. Alguns doentes queixam-se de perturbações gastrointestinais.


Há várias descrições da doença desde meados do século XIX mas apenas foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como doença no final da década de 70.

Sofrem da doença de 2 a 8% da população adulta, dependendo dos países.

Da população atingida, entre 80 a 90% dos casos são mulheres com idade entre os 30 e os 50 anos.

A DOR NA FIBROMIALGIA
O sintoma mais importante da fibromialgia é a dor, que pode afectar uma grande parte do corpo.

Em certas ocasiões, a dor começa de forma generalizada, e em outras numa área como o pescoço, ombros, região lombar etc.
A dor da fibromialgia pode ser descrita como queimadura ou mal-estar. Às vezes podem ocorrer espasmos musculares.
Com frequência, os sintomas variam em relação à hora e ao dia, podendo ter maior incidência matinal, agravando-se com a actividade física, com as mudanças climáticas, com a falta de sono e o stress, etc.

Acredita-se que a doença seja devida a uma perturbação dos mecanismos da dor, nos fusos neuromusculares, não havendo propriamente lesão de qualquer órgão, nomeadamente músculos ou articulações, podendo nalguns casos ser altamente invalidante.

OUTROS SINTOMAS E ASPECTOS DA FIBROMIALGIA
Além da dor a fibromialgia pode causar sensação de formigueiro e inchaço nas mãos e pés, principalmente ao levantar da cama assim como ocasionar rigidez muscular.
Outra alteração da fibromialgia associada à dor é a fadiga, que se mantém durante quase todo o dia com pouca tolerância ao esforço físico.
Quando o sintoma Dominante é a Fadiga a doença tem sido designada por Síndroma da Fadiga Crónica.

As pessoas com fibromialgia queixam-se com frequência de ansiedade, às vezes há depressão, perturbações da atenção, concentração e da memória.
Alguns doentes têm queixas gástricas e cólon irritável.
Cerca de 70% dos doentes com fibromialgia queixam-se de perturbações do sono, piorando as dores nos dias que dormem pior.
Os registos electroencefalográficos podem apresentar alterações em relação com as perturbações do sono.
Há relatos de casos de fibromialgia que começam depois de uma infecção bacteriana ou viral, um traumatismo físico ou psicológico.
Existem estudos que mostram que pessoas com esta doença, apresentam níveis baixos de algumas substâncias importantes, particularmente a serotonina e níveis elevadas de proteína P relacionados com a dor.

DIAGNÓSTICO
Dado que não existem exames ou análises que permitam a confirmação do diagnóstico, este é feito com a história clínica, a observação médica pondo em evidência pelo menos 12 de 18 pontos dolorosos representados nas figuras ao lado, associados à fadiga, às perturbações do sono e às alterações emocionais. Na Síndroma da Fadiga Crónica sem dores não há pontos dolorosos o que torna a situação muito mais aleatória.

Em resumo os Critérios de Diagnóstico são:

Duração superior a 3 meses de:
- Dor difusa pelo corpo.
- Dor à apalpação de 12 de 18 pontos dolorosos.


E, pelo menos, mais 2 dos 3 sintomas seguintes:
- Fadiga
- Alterações do sono
- Perturbações emocionais
- Devem no entanto ser investigados a presença de lesões nos músculos, alterações do sistema imunológico problemas hormonais e principalmente doenças reumáticas, etc.
- No caso da fibromialgia todos os exames e análises devem ser normais.

PROGNÓSTICOS E TRATAMENTO DA FIBROMIALGIA
Há várias medicações muito úteis para atenuar os sintomas da fibromialgia e muitas outras estão a surgir.
Os estudos a longo prazo sobre fibromialgia têm demonstrado que se trata de uma doença crónica com uma evolução alternando períodos melhores com outros de grande crise em que a medicação é fundamental.

Um dos aspectos que por vezes é determinante para o prognóstico é a relação entre o doente, os familiares, os colegas de trabalho e a comunidade, e não menos importante, mas indispensável, é o apoio e uma boa relação médico / doente.
Dr. Fernando Morgado - Neurologista


ALGUMAS NOTAS SOBRE FIBROMIALGIA
Dr. Sanchez Silva *

1 - O QUE É?
Trata-se de uma doença crónica, que predomina no sexo feminino (relação mulher / homem - 10/1), caracterizada por dor generalizada, fadiga, sono não reparador e hipersensibilidade dolorosa.

2 - GRUPO EM QUE SE INSERE:
Devido ao desconhecimento das causas da doença, torna-se difícil o seu enquadramento, embora a maioria dos autores a classifique como Síndroma Astenia Crónica / Doença Reumática.

3 - PREVALÊNCIA:
Embora não haja estatísticas rigorosas para Portugal, calcula-se que 5% a 6% da população sofre da doença, havendo uma distribuição pelas diversas faixas etárias, desde a idade escolar, com predominância nas mulheres acima dos 40 anos.

Existe, contudo, uma certeza:
É, neste momento, uma doença em expansão.
A observação de diagnósticos comuns a elementos da mesma família, não nos permite, ainda, concluir que seja uma doença hereditária.

4 - FISIOPATOLOGIA:
Especula-se, ainda, acerca da origem da doença.
Sabe-se que os doentes de fibromialgia apresentam diminuição de seretonina e ácido 5 - Hidroxindolacético no LCR e no plasma, assim como elevação da substância P no LCR e hipovascularização de algumas regiões cerebrais, alterações no EEG de sono nocturno, na fase Nrem, hipertonia simpática, alterações da memória recente, além de outras alterações, mas que, todas elas são comuns a outras patologias.
O mais provável é que seja uma causa multifactorial.

5 - DIAGNÓSTICO:
Critérios de diagnóstico da Sociedade Americana de Reumatologia:

A - Manifestações nucleares
- Dor crónica generalizada, com evolução de, pelo menos, 3 meses, abrangendo a parte superior e inferior do corpo, lado direito e esquerdo, assim como o esquerdo axial.
- Dor à pressão, em, pelo menos, 11 de 18 pontos predefinidos, a saber:

1. - Ponto occipital
Bilateral, nas inserções do músculo sub-occipital.
2. - Ponto cervical inferior
Bilateral, na face anterior dos espaços inter transversários de C5 e C7
3. - Ponto trapézio
Bilateral, no ponto médio do bordo superior do músculo.
4. - Ponto supra espinhoso
Bilateral, na origem do músculo acima da espinha da omoplata, junto do bordo interno.
5. - Ponto 2ª costela
Bilateral, na junção costo-condral da 2ª costela, imediatamente para fora da junção e na face superior.
6. - Ponto epicôndilo
Bilateral, 2 cm externamente ao epicôndilo.
7. - Ponto glúteo
Bilateral, no quadrante superior externo da nádega, no folheto anterior do músculo.
8. - Ponto grande trocanter

Bilateral, posterior à proeminência trocantérica.
9. - Ponto Joelho
Bilateral, na almofada adiposa interna, acima da interlinha articular.
Os pontos dolorosos não são de dor espontânea.
A sua pesquisa deve ser efectuada com uma pressão digital de 4kg.
A dor não deve irradiar.

B - Manifestações Características:

Fadiga crónica, sono não reparador, parastesias, rigidez (sobretudo matinal), edema subjectivo, cefaleias, síndroma de cólon irritável, fenómeno de Raynaud, depressão/ansiedade, hipersensibilidade generalizada à pressão e mudanças de temperatura (tipo sindroma gripal).
O diagnóstico é exclusivamente clínico, não existindo exames subsidiários caracteristicamente positivos na fibromialgia.

6 - DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS:
Tendo em consideração que os sintomas de fibromialgia são comuns a outras doenças que têm tratamento diferente, sendo que algumas são potencialmente graves em termos de sobrevida, serão de excluir os diagnósticos de:
- Artrite reumatóide; Lupus eritematoso sistémico; Espondilite anquilosante; Polimiosite; Sindroma de Sjörgen; Polimialgia reumática; Osteomalácia ; Osteoporose; Doença vertebral degenerativa; Sindroma de dor miofascial; Hipotiroidismo;Hipertiroidismo; Hiperparatiroidismo; Sindroma paraneoplásico; Miopatia metabólica; Metastização tumural; Mieloma múltiplo, Polineuropatias; Doença de Parkinson;Sarcoidose; Infecções víricas; Neuroses; Psicoses; Ansiedade; Depressão.

Qualquer destas patologias pode coexistir com a Fibromialgia.

7 - ALGUNS MITOS:

A fibromialgia é uma Doença Psiquiátrica?
Não!
Trata-se de uma doença orgânica crónica, a qual, dadas as suas características (dor generalizada, cansaço fácil) e à incompreensão de todos aqueles que rodeiam o doente, leva, muitas vezes, a que os mesmos desenvolvam reacções do foro psíquico.
Estudos recentes (Petzeke e Col) comparativos e randomizados comprovam que nestes doentes há uma hiperalgesia, independentemente de factores psíquicos.
Basta imaginar o estado de espírito de qualquer um de nós perante uma dor de dentes contínua desde há anos e sem alívio! ...

A fibromialgia tem cura?
Não!
Aliás, com o passar dos anos, o doente tende a piorar, se não houver condições para um adequado tratamento, adaptação ou perante a ausência da ajuda de terceiros nas diversas tarefas diárias.

Há algum medicamento específico?
Não!
O tratamento é Multidisciplinar e tem de ser adaptado a cada doente e à fase em que se encontra.

O Doente de Fibromialgia é Simulador? Piegas?
Não!
Trata-se de uma Doença Orgânica, que pode ser extremamente Incapacitante, afectando seriamente a qualidade de vida do doente e para a qual não há tratamento específico.

O Doente Nunca mais pode Trabalhar?
Em alguns casos é verdade, mas na maioria Pode e Deve trabalhar, mas...
Ao seu ritmo e respeitando Períodos de Repouso e em ambientes Sem Pressão ou Stress.

Não vale a pena Tratar?
Embora a doença não tenha cura, Pode e Deve ser tratada no sentido do alívio dos Sintomas e Melhoria da Qualidade de Vida dos doentes.

8 - TRATAMENTO:
O primeiro passo é Acreditarmos no sofrimento do doente!
Seguidamente, envolver o doente no seu tratamento. Cada sujeito activo compreendendo e colaborando na responsabilidade do Sucesso / Insucesso.
Deve frisar-se que se trata de uma doença crónica e que o tratamento visa, não a Ausência de Sintomas, mas o seu Controlo.
Também teremos que estar preparados para Adaptar os esquemas terapêuticos à evolução das queixas.

É sempre um tratamento Individualizado e consta de:

1 - Tratamento Farmacológico:
A aminotriptilina, em doses baixas ( 10mg - 25mg/ dia), a fluoxetina, o diazepan e outros miorrelaxantes, ansiolíticos, indutores do sono, antiepiléticos, (o topiramato em doses até 75mg/dia tem-se mostrado útil), assim como alguns analgésicos como o paracetamol, com e sem codeína, os salicilatos, o tramadol, revelam alguma eficácia.
Os corticoesteroides, devido aos efeitos secundários e à quase ineficácia, são de Evitar!

2 - Tratamento Psiquiátrico:
O apoio psiquiátrico nunca deve ser de descurar, sempre que se revele necessário, sob a orientação de médico psiquiatra com experiência em dor.

3 - Psicoterapia Coadjuvante:
Particularmente útil nas áreas Cognitiva / Comportamental:
Aprender a viver com a doença e aceitar as suas limitações, assim como aprender a lidar com o stress.
Técnicas de Bio-Feedback têm-se mostrado úteis.

4 - Fisioterapia:
Apenas quando individualizada e efectivada por técnicos com experiência nestes doentes.

5 - Exercício Físico:
Fundamental, se adaptado às condições do doente.
Aconselha-se, essencialmente, a caminhada e natação (sem grande esforço), em ambientes agradáveis e tépidos.
É importante não descurar o Exercício Físico, porque a inacção para que tendem os doentes de Dor Crónica, acarreta consequências psíquicas e físicas como Depressão, Obesidade, Atrofia Muscular, Osteoporose, atralgias, tudo situações que acabam também e por si só, gerar doença.

9 - A FIBROMIALGIA E O DOENTE:
Como em qualquer outra doença dolorosa crónica e tendencialmente incapacitante, estes doentes apresentam-se muito queixosos, com níveis de auto-estima baixos, angustiados, revoltados, não compreendidos e uma história de grande dificuldade em gerir a sua vida familiar, laboral e social.


A FAMÍLIA:
Factor primordial, para o melhor e para o pior, na evolução destes doentes.
Muitas vezes não colabora, acusando o doente de "preguiçoso", "piegas" ou "desequilibrado" emocionalmente.
Normalmente, após elucidado, o agregado familiar passa a colaborar, sendo de grande importância, pelo suporte que pode dar ao doente.
Por vezes, a própria família precisa de Apoio.

O TRABALHO:
Devido às características da doença, a rentabilidade baixa, o que, muitas vezes, acarreta acusações dos colegas e superiores hierárquicos, criando um meio hostil.
Devem-se diminuir os níveis de Stress do doente, respeitando os seus Ritmos de trabalho e/ou mudando de Actividade profissional.

A SOCIEDADE:
Normalmente, a incapacidade inerente à doença implica uma marcada diminuição da quantidade e qualidade da Vida Social destes doentes, assim como um aumento de gastos com o consumo de Serviços de Saúde e da Segurança Social, com faltas ao trabalho e Reformas precoces.
O Estado português ainda não facilita a estes doentes os direitos que lhes deveriam ser atribuídos, de acordo com o reconhecimento da patologia já existente, revelando-se duplamente penalizante para o doente e agregado familiar.

A EQUIPA DE SAÚDE:
É fundamental Acreditar no sofrimento do doente, Ser Solidário, Não desistir, estar Disponível e Atento, Aprender e Ensinar e Nunca esquecer que o doente de fibromialgia também é passível de desenvolver outras doenças.

O MÉDICO DE FAMÍLIA:
Cremos ser a base da Gestão destes doentes, porque os conhece individualmente desde há longos anos, conhece as famílias e tem a sua confiança, o ambiente laboral e os factores de risco individuais.
São factores fundamentais para um adequado Diagnóstico Diferencial, Seguimento e Intervenção Terapêutica, assim como pela proximidade e acessibilidade ao doente.

AS ASSOCIAÇÕES DE DOENTES:
Fundamentais na Divulgação da Doença, quer na Sociedade em geral através dos Média, quer na Classe Médica, através da Organização de Eventos Científicos, de que esta Revista é um exemplo.

Muito importante, também, no Apoio Individual ao doente, quer através de troca de experiências, quer através da Orientação para os locais mais idóneos, onde procurar Tratamento, assim como organizações de Sessões de Esclarecimento individual e colectivo, orientadas para os doentes, familiares e Sociedade em geral.

Fundamentais, enquanto Grupo de Pressão sobre a Classe Médica, Órgãos de Soberania e todos os Cidadãos, no sentido de uma melhor compreensão e uma Resposta Mais Eficaz Aos Doentes!

* Médico (Assistente Graduado de Medicina Geral Familiar), Presidente do N.A.F. (Núcleo de Apoio à Fibromialgia)