terça-feira, dezembro 30, 2008

FINAL DE ANO - Tempo de Balanços e Resoluções


Agora que 2008 está a terminar, é tempo de fazer o balanço dos acontecimentos e acções de mais um ano que passou e tomarmos resoluções e boas intenções para o Novo Ano que está a chegar.

As Tv's passam em revista os acontecimentos do ano e, todos, os dias, se ouve falar das dificuldades que 2009 nos vai trazer, por certo.

Estamos a viver tempos de grave crise económica , talvez ainda só a ponta do iceberg, e o panorama mundial é tudo menos animador - fraudes, colapsos financeiros e económicos, guerras, conflitos bélicos, medo do terrorismo, insegurança, fome, epidemias ou pandemias, catástrofes naturais...

2009 não vai ser um ano fácil, já o adivinhamos, e tudo indica que as circunstâncias deste ano que termina se venham a agravar.
Assim sendo, que sentido faz desejarmos um "FELIZ ANO NOVO" ?!

Talvez por força do hábito, talvez porque ainda alimentemos alguma esperança de que não venha a ser tão mau como parece...

Acredito que este Século tem de trazer uma nova esperança para a Humanidade, tem de realizar uma "revolução" cultural, de valores, uma mudança radical na forma de nos relacionarmos uns com os outros, nas relações sociais e políticas, tem de ocorrer uma nova Era, que mude radicalmente a correlação de forças e o relacionamento entre os países pobres e os países ricos, entre os mais favorecidos e os menos favorecidos, que alguns "eternos" conflitos se resolvam e que a Fome seja drasticamente reduzida no mundo.

Utopia?
Talvez, mas ainda assim, creio que é possível fazer algo de novo, se houver verdadeira vontade de mudar.

Vamos todos fazer de 2009 um ano Novo de perdão, solidariedade, paz e união entre os povos!

quarta-feira, dezembro 10, 2008

DIREITOS HUMANOS - 60 anos depois


60º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Parece impossível como, em pleno século XXI, ainda são possíveis situações como a que a imagem representa!...



Estamos todos cegos e surdos???


É preciso acordar para esta dura realidade e escapar à indiferença!

Nesta época de consumismo desenfreado, torna-se ainda mais gritante esta dura realidade. Vamos todos reflectir no nosso modo de vida e no que podemos, e devemos, fazer para inverter este estado de coisas, verdadeiramente vergonhoso para a humanidade.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Impossível não evocar hoje a lembrança deste Homem ...

Martin Luther King, Jr. a discursar na escadaria do «Monumento a Lincoln»

DISCURSO DE MARTIN LUTHER KING, JR.
Em Washington, D.C., a capital dos Estados Unidos da América, em 28 de Agosto de 1963, após a Marcha para Washington.

O discurso de Martin Luther King, pronunciado na escadaria do Monumento a Lincoln, em Washington, foi ouvido por mais de 250.000 pessoas de todas as etnias, reunidas na capital dos Estados Unidos da América, após a «Marcha para Washington por Emprego e Liberdade». A manifestação foi pensada como uma maneira de divulgar de uma forma dramática as condições de vida desesperadas dos negros no Sul dos Estados Unidos, e exigir ao poder federal um maior comprometimento na segurança física dos negros e dos defensores dos direitos civis, sobretudo no Sul.

Devido a pressões políticas exercidas pela Presidência dos Estados Unidos - ocupada por John Kennedy -, as exigências a apresentar no comício tornaram-se mais moderadas, mas mesmo assim foram feitos pedidos claros: o fim da segregação no ensino público, passagem de legislação clara no que respeita aos direitos civis, assim como de legislação proibindo a discriminação racial no emprego; para além do fim da brutalidade policial contra militantes dos direitos civis e a criação de um salário mínimo para todos os trabalhadores, que beneficiaria sobretudo os negros.


Realizado num clima muito tenso, a manifestação foi um estrondoso sucesso, e o discurso conhecido sobretudo pela frase permanentemente repetida no meio do discurso «I have a Dream» (Eu tenho um sonho), mas também pela frase que é repetida no fim - «That Liberty Ring» (Que a Liberdade ressoe), que retoma o poema patriótico «América», tornou-se, com o discurso de Lincoln em Gettysburg, um dos mais importantes da oratória americana.

Em 1964 a Lei dos Direitos Civis foi votada e promulgada por Lyndon B. Johnson e em 1965 a Lei sobre o Direito de Votar foi aprovada.

Martin Luther King, Jr. foi escolhido como Prémio Nobel da Paz no ano seguinte, em 1964.

«QUE A LIBERDADE RESSOE!»

Há cem anos, um grande americano, sob cuja sombra simbólica nos encontramos, assinava a Proclamação da Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para terminar a longa noite do cativeiro. Mas, cem anos mais tarde, devemos enfrentar a realidade trágica de que o Negro ainda não é livre.

Cem anos mais tarde, a vida do Negro é ainda lamentavelmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação. Cem anos mais tarde, o Negro continua a viver numa ilha isolada de pobreza, no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o Negro ainda definha nas margens da sociedade americana, estando exilado na sua própria terra.


Por isso, encontramo-nos aqui hoje para dramaticamente mostrarmos esta extraordinária condição. Num certo sentido, viemos à capital do nosso país para descontar um cheque. Quando os arquitectos da nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e da Declaração de independência, estavam a assinar uma promissória de que cada cidadão americano se tornaria herdeiro.


Este documento era uma promessa de que todos os homens veriam garantidos os direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à procura da felicidade. É óbvio que a América ainda hoje não pagou tal promissória no que concerne aos seus cidadãos de cor. Em vez de honrar este compromisso sagrado, a América deu ao Negro um cheque sem cobertura; um cheque que foi devolvido com a seguinte inscrição: "saldo insuficiente". Porém nós recusamo-nos a aceitar a ideia de que o banco da justiça esteja falido. Recusamo-nos a acreditar que não exista dinheiro suficiente nos grandes cofres de oportunidades deste país.


Por isso viemos aqui cobrar este cheque - um cheque que nos dará quando o recebermos as riquezas da liberdade e a segurança da justiça. Também viemos a este lugar sagrado para lembrar à América da clara urgência do agora. Não é o momento de se dedicar à luxuria do adiamento, nem para se tomar a pílula tranquilizante do gradualismo. Agora é tempo de tornar reais as promessas da Democracia. Agora é o tempo de sairmos do vale escuro e desolado da segregação para o iluminado caminho da justiça racial. Agora é tempo de abrir as portas da oportunidade para todos os filhos de Deus. Agora é tempo para retirar o nosso país das areias movediças da injustiça racial para a rocha sólida da fraternidade.


Seria fatal para a nação não levar a sério a urgência do momento e subestimar a determinação do Negro. Este sufocante verão do legítimo descontentamento do Negro não passará até que chegue o revigorante Outono da liberdade e igualdade. 1963 não é um fim, mas um começo. Aqueles que crêem que o Negro precisava só de desabafar, e que a partir de agora ficará sossegado, irão acordar sobressaltados se o País regressar à sua vida de sempre. Não haverá tranquilidade nem descanso na América até que o Negro tenha garantido todos os seus direitos de cidadania.


Os turbilhões da revolta continuarão a sacudir as fundações do nosso País até que desponte o luminoso dia da justiça. Existe algo, porém, que devo dizer ao meu povo que se encontra no caloroso limiar que conduz ao palácio da justiça. No percurso de ganharmos o nosso legítimo lugar não devemos ser culpados de actos errados. Não tentemos satisfazer a sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio.


Temos de conduzir a nossa luta sempre no nível elevado da dignidade e disciplina. Não devemos deixar que o nosso protesto realizado de uma forma criativa degenere na violência física. Teremos de nos erguer uma e outra vez às alturas majestosas para enfrentar a força física com a força da consciência.


Esta maravilhosa nova militancia que engolfou a comunidade negra não nos deve levar a desconfiar de todas as pessoas brancas, pois muitos dos nossos irmãos brancos, como é claro pela sua presença aqui, hoje, estão conscientes de que os seus destinos estão ligados ao nosso destino, e que sua liberdade está intrinsecamente ligada à nossa liberdade.


Não podemos caminhar sozinhos. À medida que caminhamos, devemos assumir o compromisso de marcharmos em frente. Não podemos retroceder. Há quem pergunte aos defensores dos direitos civis: "Quando é que ficarão satisfeitos?" Não estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos incontáveis horrores da brutalidade policial. Não poderemos estar satisfeitos enquanto os nossos corpos, cansados das fadigas da viagem, não conseguirem ter acesso a um lugar de descanso nos motéis das estradas e nos hotéis das cidades. Não poderemos estar satisfeitos enquanto a mobilidade fundamental do Negro for passar de um gueto pequeno para um maior. Nunca poderemos estar satisfeitos enquanto um Negro no Mississipi não pode votar e um Negro em Nova Iorque achar que não há nada pelo qual valha a pena votar. Não, não, não estamos satisfeitos, e só ficaremos satisfeitos quando a justiça correr como a água e a rectidão como uma poderosa corrente.


Sei muito bem que alguns de vocês chegaram aqui após muitas dificuldades e tribulações. Alguns de vocês saíram recentemente de pequenas celas de prisão. Alguns de vocês vieram de áreas onde a vossa procura da liberdade vos deixou marcas provocadas pelas tempestades da perseguição e sofrimentos provocados pelos ventos da brutalidade policial. Vocês são veteranos do sofrimento criativo. Continuem a trabalhar com a fé de que um sofrimento injusto é redentor.

Voltem para o Mississipi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para a Luisiana, voltem para as bairros de lata e para os guetos das nossas modernas cidades, sabendo que, de alguma forma, esta situação pode e será alterada. Não nos embrenhemos no vale do desespero.
Digo-lhes, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento, ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.


Tenho um sonho que um dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: "Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais".
Tenho um sonho que um dia nas montanhas rubras da Geórgia os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos proprietários de escravos poderão sentar-se à mesa da fraternidade.
Tenho um sonho que um dia o estado do Mississipi, um estado deserto, sufocado pelo calor da injustiça e da opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.
Tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pela qualidade do seu caractér.


Tenho um sonho, hoje.
Tenho um sonho que um dia o estado de Alabama, cujos lábios do governador actualmente pronunciam palavras de ... e recusa, seja transformado numa condição onde pequenos rapazes negros, e raparigas negras, possam dar-se as mãos com outros pequenos rapazes brancos, e raparigas brancas, caminhando juntos, lado a lado, como irmãos e irmãs.


Tenho um sonho, hoje.
Tenho um sonho que um dia todo os vales serão elevados, todas as montanhas e encostas serão niveladas, os lugares ásperos serão polidos, e os lugares tortuosos serão endireitados, e a glória do Senhor será revelada, e todos os seres a verão, conjuntamente.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com a qual regresso ao Sul. Com esta fé seremos capazes de retirar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé poderemos transformar as dissonantes discórdias de nossa nação numa bonita e harmoniosa sinfonia de fraternidade. Com esta fé poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ir para a prisão juntos, ficarmos juntos em posição de sentido pela liberdade, sabendo que um dia seremos livres.

Esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado: "O meu país é teu, doce terra de liberdade, de ti eu canto. Terra onde morreram os meus pais, terra do orgulho dos peregrinos, que de cada localidade ressoe a liberdade".

E se a América quiser ser uma grande nação isto tem que se tornar realidade. Que a liberdade ressoe então dos prodigiosos cabeços do Novo Hampshire. Que a liberdade ressoe das poderosas montanhas de Nova Iorque. Que a liberdade ressoe dos elevados Alleghenies da Pensilvania!

Que a liberdade ressoe dos cumes cobertos de neve das montanhas Rochosas do Colorado!
Que a liberdade ressoe dos picos curvos da Califórnia!
Mas não só isso; que a liberdade ressoe da Montanha de Pedra da Geórgia!
Que a liberdade ressoe da Montanha Lookout do Tennessee!
Que a liberdade ressoe de cada Montanha e de cada pequena elevação do Mississipi.
Que de cada localidade, a liberdade ressoe.
Quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar de cada vila e cada aldeia, de cada estado e de cada cidade, seremos capazes de apressar o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar as palavras da antiga canção negra:


"Liberdade finalmente! Liberdade finalmente! Louvado seja Deus, Todo Poderoso, estamos livres, finalmente!"

Fonte:
Martin Luther King, Jr, The Peaceful Warrior, Nova Iorque, Pocket Books, 1968; DHnet - Rede de Direitos Humanos & Cultura.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Foi há 12 anos que este NOBEL "alertou" o mundo para a causa timorense...

The Nobel Peace Prize 1996


"for their work towards a just and peaceful solution to the conflict in East Timor"
















Carlos Ximenes Belo José Ramos-Horta
b. 1948 b. 1949


Este prémio (repartido) "despertou" a consciência mundial para o martírio do povo timorense

domingo, setembro 28, 2008

TIMOR-LESTE - um paraíso por descobrir...


Nos antípodas do ambiente da cidade de Istanbul, está Timor-Leste com as suas paisagens deslunbrantes, quase 'intocadas' e com uma população total (do país) a rondar apenas 1 milhão de pessoas - acolhedoras e autênticas, e muitas, muitas crianças com sorrisos encantadores...

Mais informações em 'Turismo de Timor-Leste' : http://www.turismotimorleste.com/pt/


DÍLI com a ilha de Ataúro em fundo


Montanhas



Sorrisos cativantes
Foto de Rosely Forganes



Praias de águas turqueza e cristalinas, areias finíssimas e um mundo sub-aquático dos mais ricos e intactos do planeta.




Um país que mantém intactas as suas tradições, e em que as celebrações e rituais não são "folclore para turista ver", são autênticas demonstrações da sua riqueza cultural e animismo, lado a lado com uma fé católica única por aquelas paragens.



Casas tradicionais - UMALULIK

TAIS - têxteis tradicionais, com grande significado cultural, produzidos artesanalmente

Tais Mane (masculino)


Pinturas rupestres, datadas de 30.000 anos, situadas na ponta mais oriental da Ilha, nas grutas de Ilekerekere

Por todas estas razões, um país que, apesar de ser o mais pobre do Sudeste Asiático, é riquissimo em atractivos naturais - as paisagens, as praias, a riqueza cultural e a simpatia natural dum Povo que sabe receber - merece e deve ser visitado.
Antes que seja tarde...


Timor-Leste é lindo também debaixo de água!

Veja aqui http://www.congo-pages.org/ET/DIVE%20TIMOR/dive_timor.htm

e aqui http://seppo.ihalainen.fi/gallery/main.php?g2_itemId=1473

alguns dos melhores locais de mergulho do mundo!

ISTANBUL - Europásia

Algumas belezas de Istanbul...

Mesquita Azul - Sultanamed




Haja Sophya




Estreito do Bósforo


14 milhões de habitantes e um trânsito perfeitamente caótico tiram muito do brilho dos monumentos deslumbrantes desta cidade que faz a "ponte" entre a Europa e a Ásia...




sexta-feira, agosto 08, 2008

Governo liderado por Xanana Gusmão completa 1º ano


O IV Governo Constitucional de Timor-Leste, resultante da aliança AMP, assinala hoje o seu 1º aniversário!

Este Governo não teve um primeiro ano fácil.
Para além de ter de lidar com duas questões bem difíceis - 100.000 deslocados internos e o "caso dos peticionários - o próprio Chefe do Governo, Xanana Gusmão e o PR Ramos-Horta, foram alvo de atentados, cujas consequências, felizmente, foram ultrapassadas com sucesso.

Este Governo foi capaz de dar resposta às várias e difíceis situações que teve de enfrentar, e a situação político social melhorou significatibvamente. A população de Timor, apesar de ainda enfrentar grandes dificuldades económicas e sociais, sente-se mais segura e com esperança no futuro.

Foi neste primeiro ano de governação que se lançaram as bases para reforma administrativa, que se impunha e se lançaram as bases necessárias para o arranque de grandes projectos, ao nível das infra-estruturas e do desenvolvimento económico. Foi um ano para "arrumar a casa", como se usa dizer.

O problema dos IDP e o dos peticionários estão na fase final da sua resolução.

Os Veteranos e as Vítimas da Luta, viram, finalmente, o seu sacrifício e entrega publicamente reconhecidos e recompensados, com a justa atribuição de subsídios e "indemnizações".

As instituições de Defesa (F-FDTL) e de Policiamento (PNTL) "reconciliaram-se" e trabalham de forma unida e concertada para a manutenção da estabilidade social. Exemplo claro dessa unidade foi o sucesso da "Operação Halibur" criada para a captura dos responsáveis pelos atentados de 11 de Fevereiro.

As ruas da capital estão mais limpas e seguras, as pessoas mais confiantes!

Mas, o Governo da AMP tem ainda muito trabalho pela frente, e certamente não irá baixar os braços perante os enormes desafios que o futuro lhe reserva.

Feliz Aniversário e um 2º Ano de mandato repleto de sucessos!


HIROSHIMA - Cidade de Paz - 63 anos depois


Foi em 6 de Agosto de 1945.

Cerca das 8.14 horas, vários bombardeiros B-29 da força aéra dos EUA sobrevoam Hiroshima.

Um deles, o Enola Gay larga a «little boy». A primeira bomba atómica a ser usada contra alvos humanos. Um minuto depois, a cerca de dois mil pés de altitude, dá-se a explosão.

Próximo do edifício do centro de exposições da industria e que hoje é designado como «a cúpula da bomba atómica». Era o centro da cidade. Num segundo, uma enorme bola de fogo atingiu um diâmetro de 280 metros. A temperatura no solo chegou aos 5 mil ºC. A 600 metros do epicentro a temperatura era de 2 mil ºC.

Tudo ficou queimado. Corpos desintegraram-se.

Sombras na parede. É o que restou das pessoas que foram desintegradas pela explosão. Vidros e estruturas de metal derreteram, prédios desapareceram. Mesmo a dois quilómetros de distância, desmoronaram-se edifícios de cimento armado.

A onda de calor intenso emitia raios térmicos, como a radiação ultravioleta. Devastava pessoas, animais e vegetação. Houve ainda a agravante de as montanhas em volta de Hiroshima terem «devolvido» a onda de calor, atingindo mais uma vez a cidade.

Um minuto depois da explosão George Marquardt tirou uma fotografia. Marquardt seguia num bombardeiro dos EUA, ao lado do Enola Gay. Segundo afirmou, a luz emanada pela bomba era tão brilhante que não conseguia ver o co-piloto, sentado ao seu lado. Deixavam para trás um cenário de devastação.

Naquela altura viviam em Hiroshima cerca de 350 mil pessoas. Estima-se que tenham morrido, na altura da explosão e nos quatro meses seguintes, 140 mil pessoas. Não apenas japoneses. Na altura, coreanos e chineses tinham sido levados para Hiroshima para trabalharem nas fábricas.

Porque a explosão se deu no centro da cidade e devido à grande concentração de casas numa área de três quilómetros em volta do epicentro, cerca de 90 por cento dos prédios ficaram queimados e destruídos. Os sobreviventes foram atingidos por radiações. Cerca de 35 mil feridos vaguearam pela cidade à procura de ajuda. No meio de cinzas, casas a arder e corpos espalhados pelo chão.

No dia a seguir à explosão ainda havia focos de incêndio, apesar da queda de uma chuva preta e oleosa que continha poeira radioactiva. Esta chuva acabou por contaminar outras regiões. Quem sofreu o efeito das radiações ficou com queimaduras na pele e com alguns tecidos internos também afectados.

As consequências, entre os que conseguiram sobreviver, perduraram durante longos anos.

Três dias depois, esta situação repetiu-se em Nagasaki e no dia 10 de Agosto o Japão declarou a rendição.

O choque provocado pela devastação causada pelas bombas atómicas perdura até aos dias de hoje. O próprio Japão assumiu uma postura contra qualquer experiência militar com recurso do nuclear e, depois da II Grande Guerra, o único conflito armado onde se envolveu foi agora, com o envio de militares para o Iraque.

Hiroshima e Nagasaki, ainda hoje, sentem os efeitos das bombas. As duas cidades foram reconstruídas mas quiseram que as marcas do horror causado pelas bombas não fossem esquecidas.

As memórias dos sobreviventes constituem um arquivo vivo. Monumentos, museus e memoriais continuam a lembrar o que se passou em 6 e 9 de Agosto de 1945.


Todos os anos estas datas são evocadas nas duas cidades. Em Hiroshima concentram-se milhares de pessoas em frente ao mausoléu.

Nas margens do rio Motoyasu são colocadas lanternas flutuantes em memória das vítimas.


HIROSHIMA, NUNCA MAIS !

segunda-feira, julho 14, 2008

Zeca Afonso - SEMPRE !

Amigo, maior que o pensamento...

domingo, julho 06, 2008

BONECAS de ATAÚRO - Timor-Leste

Bonecas de Ataúro
A 28 de Junho de 2008 é inaugurada a Oficina-Museu, como resultado do trabalho, dos meses anteriores, com o Instituto Camões assim como o lançamento da página da Internet do grupo.

Oficina Museu - Descrição

Tecida por mulheres e destinada às crianças...... assim se forma uma teia de pontos e abraços que se estende de Ataúro a todos os distritos e mais para além do horizonte timorense.

Partindo de um trabalho paciente e laborioso de um grupo de mulheres irrompe a ideia de Mara Bernardes, do Centro Cultural Português do Instituto Camões, de criar uma Oficina Museu valorizando e dando a conhecer o grupo, a forma como se constituiu. Piera Zurcher, a fiel inspiradora do grupo, antevê um espaço onde se perserve o processo de construção de cada boneca, onde se valorize o trabalho deste grupo e Mara Bernardes compreende o alcance deste projecto pedagógico e cultural.


Ambas anteveêm os produtos que serão produzidos e reveem-se na projecção que as belíssimas fotos de Álvaro Tilman Soares darão a estes seres de tecido e linha, cosidos com dedicação e quase possuidores de alma e coração, fáceis da afagar e companhia discreta das vivências de cada pessoa. Concebido o espaço pelo IC em parceria com Ruth Grilo (criadora do logotipo do Grupo das Bonecas), e o mesmo preenchido por mbiliário por esta desenhado e que surge das mãos hábeis dos artesãos locais.

Viajantes no País e estrangeiro, munidas de passaporte individual, as Bonecas de Ataúro preparam-se agora para as futuras deslocações e aguardam que os visitantes do site criado por Miguel Duarte e Guilherme Cartaxo possam conhecer a sua origem e o caminho até aqui um projecto realizado ao longo de vários meses em permanente contacto com as Instituições e pessoas nele envolvidas.

Colecção "Bébés"
Merecedoras de apoio da Secretaria de Estado da Cultura e premiadas pela UNICEF, constituem o primeiro produto certificado de Timor-Leste enquanto País independente.
Aprecie-as e divulgue-as!

Há colecções de diferentes tamanhos e também representativas dos 13 Distritos

(Baucau, na foto)


* As bonecas de Ataúro são um produto artesanal
As combinações de materiais e cores são sempre diferentes em cada modelo
Os modelos são únicos e não podem ser reproduzidos




http://www.bonecasdeatauro.com/
Copyright © 2008

Morada
Vila Maumeta – Ataúro – Timor–Leste
+670 7325830 +670 7282563 +670 7370229
Email: bonecadeatauro@yahoo.it





quinta-feira, junho 26, 2008

"Não sou um exemplo do que é viver neste mundo" - José Saramago

Entrevista de Maria José Oliveira (PÚBLICO) e Paulo Magalhães (Renascença),15.06.2008.

Ainda em convalescença, José Saramago diz que a pneumonia lhe fez "bem". Porque "relativizou tudo" e lhe deu "serenidade"

José Saramago afirma que foi a primeira vez que se "atreveu" a dizê-lo: se existe alguma mensagem nos seus livros, ela está no momento em que um cão lambe as lágrimas de uma mulher, no romance Ensaio sobre a Cegueira. É por essa passagem que o Prémio Nobel da Literatura (1998) gostaria de ser recordado no futuro.

Em conversa com o PÚBLICO e a Rádio Renascença, Saramago comentou a suposta gaffe de Cavaco Silva, lamentou o espírito de resignação dos portugueses e falou sobre a pneumonia que o deixou às portas da morte.
Em Lisboa, onde vai ficar até meados de Julho, continua a escrever todos os dias as páginas do seu próximo romance, A Viagem do Elefante, que deverá estar concluído em Agosto.

Há muita gente em Portugal que não gosta da sua obra. É uma pessoa polémica...
É estranho que comecemos por aí, pelas pessoas que não gostam daquilo que eu digo ou daquilo que eu faço. Não vou dizer que lamento. Faço o meu trabalho e não roubei o lugar a ninguém. Na arte não se rouba o lugar: ocupa-se o seu próprio lugar. Foi o que eu fiz.
Há posições extremadas. Ou se ama ou se odeia.
Acho muito bem. Não estamos com meias-tintas. Mas há ainda uma outra categoria, mais reduzida, de pessoas que não leram e não gostam.

Que imagem tem do seu país e dos seus compatriotas?
Tenho sido severo, algumas vezes. Mas houve uma altura em que disse que gostava daquilo que este país fez de mim - é um dos melhores elogios que se pode fazer.
Verifico com pena que continuamos com pouca ousadia no que se refere a projectos e à sua realização.
Comparo o nosso país com uma pessoa que está na borda do passeio à espera que alguém a ajude a atravessar para o outro lado. Estamos sempre à espera de alguém que venha salvar a pátria. O grande problema nacional é a mediocridade e a resignação à mediocridade. O que é um pouco contraditório. Porque temos sonhos de grandeza e o Campeonato Europeu de Futebol é um caso.

Fala em falta de espírito crítico. Onde é que isso se nota no dia-a-dia?

No comportamento dos cidadãos. Há quem opine criticamente nos jornais. Mas o cidadão médio tem uma preguiça enorme em riscar as opiniões que não sejam aquelas que se trocam por miúdos ao longo do dia. Há três ou quatro ou 50 problemas grandes no mundo. Não vejo a participação dos portugueses nos debates de todas essas coisas.

De onde é que vem essa falta de participação?
Não sei se é congénito, não sei o que se passa connosco.
Connosco incluindo José Saramago?
Incluindo-me a mim. Se não fosse isso, seria muito melhor do que aquilo que sou. Que já não estou nada mau. Hoje é Presidente da República o homem que era primeiro-ministro quando decidiu ir para Lanzarote...Sim, senhor. Bom proveito vos faça.
Esse primeiro-ministro é hoje Presidente da República. Como é que vê o seu mandato?
Nem olho para ele. Refiro-me ao mandato. Há pouco falou-se nas pessoas que não gostam de mim. Pronto, eu também não gosto do professor Cavaco Silva. É o meu direito. E de vez em quando ele dá-me razão. Há dias saiu-se com essa do dia da raça.
Não foi um deslize, uma gaffe?
Se ele disse dia da raça é porque pensa efectivamente que deveria chamar-se assim, embora não ouse fazer essa proposta.
O Presidente deveria ter feito um pedido de desculpas público?
Os políticos dificilmente pedem desculpa às pessoas a quem de alguma maneira ofenderam.
Consideram-no uma pessoa céptica ou pessimista. Revê-se nisso?
Não sou uma espécie de narciso que se vê ao espelho e diz "olha que bom, que pessimista que tu és". Parece que o que é bom é ser optimista. Mesmo que não haja nenhuma razão para isso. Há pessoas que têm razões para estarem contentíssimas com o mundo, têm tudo o que querem.
O que é que lhe falta?
Não me falta nada. Mas eu não sou um exemplo do que é viver neste mundo. Sou um privilegiado. Mas não posso estar contente.
O mundo é o inferno. Não vale a pena ameaçarem-nos com outro inferno porque já estamos nele. A questão é saber como é que saímos dele. Saul Bellow, também Nobel da Literatura, dizia que à medida que ia envelhecendo ia encurtando frases e as suas obras foram ficando mais magras...
Escrevo menos frases longas e o livro fica mais pequeno. A idade tem uma influência grande. Não é agora, aos 85 anos, que eu poderia lançar-me a escrever o Memorial do Convento ou o
Evangelho segundo Jesus Cristo. Porque olho para o calendário e pergunto: ainda estarei vivo daqui por um ano?
Pensou na morte quando esteve doente?
Era inevitável que pensasse. Estive muito perto dela. Se me falarem sobre a morte digo: sim, já sei, estive à porta. Não cheguei a entrar, mas estive à porta.
Aceitei essa probabilidade com uma serenidade enorme. Serenidade que conservo hoje. De certa forma, diria que me fez bem aquela doença. Relativizou tudo.
Estou a escrever um livro [A Viagem do Elefante] e não quero morrer antes de acabá-lo. Uma das minhas preocupações quando estava entre cá e lá, numa espécie de limbo em que a consciência de mim mesmo não era absoluta, era a de que talvez não pudesse acabar o livro. Afinal, ainda hoje escrevi mais uma página. Lá para Agosto estará terminado.
Como é que gostava de ser recordado? O Nobel português?
Gostaria de ser recordado como o escritor que criou a personagem do cão das lágrimas [Ensaio sobre a Cegueira].
É um dos momentos mais belos que fiz até hoje enquanto escritor.
Se no futuro puder ser recordado como "aquele tipo que fez aquela coisa do cão que bebeu as lágrimas da mulher", ficarei contente.
Se alguém procurar naquilo que eu tenho escrito uma certa mensagem, atrevo-me pela primeira vez a dizer que essa mensagem está aí.
A compaixão dessa mulher que tenta salvar o grupo em que está o seu marido é equivalente à compaixão daquele cão que se aproxima de um ser humano em desespero e que, não podendo fazer mais nada, lhe bebe as lágrimas.

quarta-feira, junho 18, 2008

Refugiados no mundo atingiram em 2007 o número de 37,4 milhões

Foto: http://tempodeviagem.blogspot.com/2007/06/dia-mundial-dos-refugiados.html

Os continuados conflitos no Iraque e no Afeganistão constituem a principal causa para o segundo aumento anual consecutivo de refugiados e deslocados no mundo, que chegaram ao número "sem precedentes" de 37,4 milhões de pessoas em 2007, segundo relatório divulgado ontem pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Esta subida repetida - voltando a contrariar a tendência de baixa registada entre 2001 e 2005 - é "motivo de preocupação", avaliou em comunicado o alto-comissário, António Guterres, alertando que "uma mistura complexa de desafios mundiais" pode "gerar um risco acrescido de deslocações forçadas no futuro".

"A degradação ambiental provocada pelas alterações climáticas" e o "muito forte aumento dos preços que atinge com especial dureza os pobres e constitui fonte de instabilidade" estão entre esses desafios.
Só sob a responsabilidade do ACNUR estavam no final do ano passado 11,4 milhões de refugiados (eram 9,9 milhões em 2006), aqueles que, por definição da ONU, se refugiaram em países que não os de origem, em fuga de conflitos ou perseguições. Mais de metade dessas pessoas são afegãos (3,1 milhões), que vivem no Paquistão ou no Irão, e iraquianos (2,3 milhões), a viverem na Síria ou na Jordânia.

O número de deslocados - aqueles que deixaram as suas casas devido a violência ou catástrofes naturais mas permanecem no país de origem - subiu também, para os 26 milhões de pessoas, dos 24,4 milhões registados em 2006. A razão principal deste aumento deveu-se à "situação instável no Iraque", apontou Guterres, precisando que o número de deslocados dentro das fronteiras iraquianas disparou de 1,8 milhões para 2,4 milhões em apenas um ano.
No ano passado, precisa o documento do ACNUR, foram feitos 647.200 pedidos de asilo - o primeiro aumento nos últimos quatro anos, com a causa dominante desse acréscimo (cifrado em cinco por cento) a ser identificada pelo alto-comissário, de novo, com o "vasto número de iraquianos" que procuraram protecção internacional na Europa.Os principais países de destino nestes pedidos de asilo são os Estados Unidos, a África do Sul, Suécia, França, Reino Unido, Canadá e Grécia.

Guterres, numa entrevista ontem dada ao diário britânico The Independent, aproveitou para sublinhar que "é muito importante que os europeus percebam que este não é o momento para mandar os iraquianos de volta". "Fazê-lo envia uma mensagem muito negativa para a Síria e para a Jordânia, que abrigam centenas de milhares de refugiados. Não é difícil imaginar o que aconteceria se a Síria e a Jordânia decidissem expulsar estas pessoas", defendeu.

quinta-feira, junho 12, 2008

"ONDE NASCE O SOL" - "A HERO'S JOURNEY"

XANANA GUSMÃO, ON "A HERO'S JOURNEY" Part 1 A

Autoria: Grace Phan, Singapura

Fonte: http://br.youtube.com/watch?v=IHHtsKdTGqY

( Ver documentário completo, em partes, no Youtube )

"ONDE NASCE O SOL" - Versão Portuguesa ( brevemente disponível em Portugal )

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Espereranças Rasgadas
Por Xanana Gusmão

Timor
Jazigo de uma alma
Que não pereceu
Nas névoas
De uma história que se perdeu
Na distância das lendas

Timor
Montanha de ossos
De uma valentia
Que bocas guerreiras
Abençoaram seus filhos
Para a perenidade dos dias

Timor
Onde a morte
só se consagra no combate
Para deter a vida
E contar a história às crianças
Que nascem para recordar

Timor

Onde as flores
Também desabrocham
Para embelezar
as sepulturas desconhecidas
‘em noites frias, infindáveis’

Timor
Onde as pessoas
nascem para morrer
pela esperança
em rasgos de dor
em rasgos de carne
em rasgos de sangue
em rasgos de vida
em rasgos de alma
em rasgos
da própria liberdade
que se alcança..
com a morte!

Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil

OIT alerta que 75 milhões de crianças não frequentam escola
Cerca de 75 milhões de crianças no mundo não têm acesso à educação e começam a trabalhar muito cedo, denunciou hoje a Organização Internacional do Trabalho (OIT) por ocasião do Dia Mundial contra o Trabalho Infantil.
«Devemos agir para que toda a criança tenha direito à educação e para que não precisem de trabalhar para sobreviver», declarou o director-geral da OIT, Juan Somavía.
A educação é o assunto central este ano no Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, assim como a necessidade de romper o círculo vicioso criado pela pobreza e pela participação das crianças em actividades económicas.
No total, cerca de 165 milhões de crianças entre os 4 e 15 anos trabalham no mundo, segundo a OIT, e destas mais de 100 milhões estão na agricultura, em áreas rurais onde o acesso às escolas é raro.
A disponibilidade de professores e o acesso aos meios de comunicação são muito limitados, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
«Para muitas crianças no mundo, em particular para aquelas de famílias pobres, o direito à educação continua a ser um conceito abstracto, muito distante da realidade do dia a dia», acrescentou Somavía.
A OIT, o Unicef e outras agências consideram que a educação é a melhor resposta para reduzir e, posteriormente, para erradicar o trabalho infantil, e que é necessário, além disso, impulsionar a igualdade de género, pois as meninas são sempre as mais prejudicadas pela falta de educação.
Fonte: DD/Lusa

Música: "IMAGINE" - John Lennon

“Criança tem que brincar. Aprender a ser feliz.

Entrem nessa campanha vocês também: por um mundo sem trabalho infantil.”
Gilberto Gil

quarta-feira, junho 11, 2008

terça-feira, junho 10, 2008

O que é a Fibromialgia


A fibromialgia é uma síndroma crónica caracterizada por queixas dolorosas neuromusculares difusas e pela presença de pontos dolorosos em regiões anatomicamente determinadas. Outras manifestações que acompanham também as dores são a fadiga, as perturbações do sono e os distúrbios emocionais. Alguns doentes queixam-se de perturbações gastrointestinais.


Há várias descrições da doença desde meados do século XIX mas apenas foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como doença no final da década de 70.

Sofrem da doença de 2 a 8% da população adulta, dependendo dos países.

Da população atingida, entre 80 a 90% dos casos são mulheres com idade entre os 30 e os 50 anos.

A DOR NA FIBROMIALGIA
O sintoma mais importante da fibromialgia é a dor, que pode afectar uma grande parte do corpo.

Em certas ocasiões, a dor começa de forma generalizada, e em outras numa área como o pescoço, ombros, região lombar etc.
A dor da fibromialgia pode ser descrita como queimadura ou mal-estar. Às vezes podem ocorrer espasmos musculares.
Com frequência, os sintomas variam em relação à hora e ao dia, podendo ter maior incidência matinal, agravando-se com a actividade física, com as mudanças climáticas, com a falta de sono e o stress, etc.

Acredita-se que a doença seja devida a uma perturbação dos mecanismos da dor, nos fusos neuromusculares, não havendo propriamente lesão de qualquer órgão, nomeadamente músculos ou articulações, podendo nalguns casos ser altamente invalidante.

OUTROS SINTOMAS E ASPECTOS DA FIBROMIALGIA
Além da dor a fibromialgia pode causar sensação de formigueiro e inchaço nas mãos e pés, principalmente ao levantar da cama assim como ocasionar rigidez muscular.
Outra alteração da fibromialgia associada à dor é a fadiga, que se mantém durante quase todo o dia com pouca tolerância ao esforço físico.
Quando o sintoma Dominante é a Fadiga a doença tem sido designada por Síndroma da Fadiga Crónica.

As pessoas com fibromialgia queixam-se com frequência de ansiedade, às vezes há depressão, perturbações da atenção, concentração e da memória.
Alguns doentes têm queixas gástricas e cólon irritável.
Cerca de 70% dos doentes com fibromialgia queixam-se de perturbações do sono, piorando as dores nos dias que dormem pior.
Os registos electroencefalográficos podem apresentar alterações em relação com as perturbações do sono.
Há relatos de casos de fibromialgia que começam depois de uma infecção bacteriana ou viral, um traumatismo físico ou psicológico.
Existem estudos que mostram que pessoas com esta doença, apresentam níveis baixos de algumas substâncias importantes, particularmente a serotonina e níveis elevadas de proteína P relacionados com a dor.

DIAGNÓSTICO
Dado que não existem exames ou análises que permitam a confirmação do diagnóstico, este é feito com a história clínica, a observação médica pondo em evidência pelo menos 12 de 18 pontos dolorosos representados nas figuras ao lado, associados à fadiga, às perturbações do sono e às alterações emocionais. Na Síndroma da Fadiga Crónica sem dores não há pontos dolorosos o que torna a situação muito mais aleatória.

Em resumo os Critérios de Diagnóstico são:

Duração superior a 3 meses de:
- Dor difusa pelo corpo.
- Dor à apalpação de 12 de 18 pontos dolorosos.


E, pelo menos, mais 2 dos 3 sintomas seguintes:
- Fadiga
- Alterações do sono
- Perturbações emocionais
- Devem no entanto ser investigados a presença de lesões nos músculos, alterações do sistema imunológico problemas hormonais e principalmente doenças reumáticas, etc.
- No caso da fibromialgia todos os exames e análises devem ser normais.

PROGNÓSTICOS E TRATAMENTO DA FIBROMIALGIA
Há várias medicações muito úteis para atenuar os sintomas da fibromialgia e muitas outras estão a surgir.
Os estudos a longo prazo sobre fibromialgia têm demonstrado que se trata de uma doença crónica com uma evolução alternando períodos melhores com outros de grande crise em que a medicação é fundamental.

Um dos aspectos que por vezes é determinante para o prognóstico é a relação entre o doente, os familiares, os colegas de trabalho e a comunidade, e não menos importante, mas indispensável, é o apoio e uma boa relação médico / doente.
Dr. Fernando Morgado - Neurologista


ALGUMAS NOTAS SOBRE FIBROMIALGIA
Dr. Sanchez Silva *

1 - O QUE É?
Trata-se de uma doença crónica, que predomina no sexo feminino (relação mulher / homem - 10/1), caracterizada por dor generalizada, fadiga, sono não reparador e hipersensibilidade dolorosa.

2 - GRUPO EM QUE SE INSERE:
Devido ao desconhecimento das causas da doença, torna-se difícil o seu enquadramento, embora a maioria dos autores a classifique como Síndroma Astenia Crónica / Doença Reumática.

3 - PREVALÊNCIA:
Embora não haja estatísticas rigorosas para Portugal, calcula-se que 5% a 6% da população sofre da doença, havendo uma distribuição pelas diversas faixas etárias, desde a idade escolar, com predominância nas mulheres acima dos 40 anos.

Existe, contudo, uma certeza:
É, neste momento, uma doença em expansão.
A observação de diagnósticos comuns a elementos da mesma família, não nos permite, ainda, concluir que seja uma doença hereditária.

4 - FISIOPATOLOGIA:
Especula-se, ainda, acerca da origem da doença.
Sabe-se que os doentes de fibromialgia apresentam diminuição de seretonina e ácido 5 - Hidroxindolacético no LCR e no plasma, assim como elevação da substância P no LCR e hipovascularização de algumas regiões cerebrais, alterações no EEG de sono nocturno, na fase Nrem, hipertonia simpática, alterações da memória recente, além de outras alterações, mas que, todas elas são comuns a outras patologias.
O mais provável é que seja uma causa multifactorial.

5 - DIAGNÓSTICO:
Critérios de diagnóstico da Sociedade Americana de Reumatologia:

A - Manifestações nucleares
- Dor crónica generalizada, com evolução de, pelo menos, 3 meses, abrangendo a parte superior e inferior do corpo, lado direito e esquerdo, assim como o esquerdo axial.
- Dor à pressão, em, pelo menos, 11 de 18 pontos predefinidos, a saber:

1. - Ponto occipital
Bilateral, nas inserções do músculo sub-occipital.
2. - Ponto cervical inferior
Bilateral, na face anterior dos espaços inter transversários de C5 e C7
3. - Ponto trapézio
Bilateral, no ponto médio do bordo superior do músculo.
4. - Ponto supra espinhoso
Bilateral, na origem do músculo acima da espinha da omoplata, junto do bordo interno.
5. - Ponto 2ª costela
Bilateral, na junção costo-condral da 2ª costela, imediatamente para fora da junção e na face superior.
6. - Ponto epicôndilo
Bilateral, 2 cm externamente ao epicôndilo.
7. - Ponto glúteo
Bilateral, no quadrante superior externo da nádega, no folheto anterior do músculo.
8. - Ponto grande trocanter

Bilateral, posterior à proeminência trocantérica.
9. - Ponto Joelho
Bilateral, na almofada adiposa interna, acima da interlinha articular.
Os pontos dolorosos não são de dor espontânea.
A sua pesquisa deve ser efectuada com uma pressão digital de 4kg.
A dor não deve irradiar.

B - Manifestações Características:

Fadiga crónica, sono não reparador, parastesias, rigidez (sobretudo matinal), edema subjectivo, cefaleias, síndroma de cólon irritável, fenómeno de Raynaud, depressão/ansiedade, hipersensibilidade generalizada à pressão e mudanças de temperatura (tipo sindroma gripal).
O diagnóstico é exclusivamente clínico, não existindo exames subsidiários caracteristicamente positivos na fibromialgia.

6 - DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS:
Tendo em consideração que os sintomas de fibromialgia são comuns a outras doenças que têm tratamento diferente, sendo que algumas são potencialmente graves em termos de sobrevida, serão de excluir os diagnósticos de:
- Artrite reumatóide; Lupus eritematoso sistémico; Espondilite anquilosante; Polimiosite; Sindroma de Sjörgen; Polimialgia reumática; Osteomalácia ; Osteoporose; Doença vertebral degenerativa; Sindroma de dor miofascial; Hipotiroidismo;Hipertiroidismo; Hiperparatiroidismo; Sindroma paraneoplásico; Miopatia metabólica; Metastização tumural; Mieloma múltiplo, Polineuropatias; Doença de Parkinson;Sarcoidose; Infecções víricas; Neuroses; Psicoses; Ansiedade; Depressão.

Qualquer destas patologias pode coexistir com a Fibromialgia.

7 - ALGUNS MITOS:

A fibromialgia é uma Doença Psiquiátrica?
Não!
Trata-se de uma doença orgânica crónica, a qual, dadas as suas características (dor generalizada, cansaço fácil) e à incompreensão de todos aqueles que rodeiam o doente, leva, muitas vezes, a que os mesmos desenvolvam reacções do foro psíquico.
Estudos recentes (Petzeke e Col) comparativos e randomizados comprovam que nestes doentes há uma hiperalgesia, independentemente de factores psíquicos.
Basta imaginar o estado de espírito de qualquer um de nós perante uma dor de dentes contínua desde há anos e sem alívio! ...

A fibromialgia tem cura?
Não!
Aliás, com o passar dos anos, o doente tende a piorar, se não houver condições para um adequado tratamento, adaptação ou perante a ausência da ajuda de terceiros nas diversas tarefas diárias.

Há algum medicamento específico?
Não!
O tratamento é Multidisciplinar e tem de ser adaptado a cada doente e à fase em que se encontra.

O Doente de Fibromialgia é Simulador? Piegas?
Não!
Trata-se de uma Doença Orgânica, que pode ser extremamente Incapacitante, afectando seriamente a qualidade de vida do doente e para a qual não há tratamento específico.

O Doente Nunca mais pode Trabalhar?
Em alguns casos é verdade, mas na maioria Pode e Deve trabalhar, mas...
Ao seu ritmo e respeitando Períodos de Repouso e em ambientes Sem Pressão ou Stress.

Não vale a pena Tratar?
Embora a doença não tenha cura, Pode e Deve ser tratada no sentido do alívio dos Sintomas e Melhoria da Qualidade de Vida dos doentes.

8 - TRATAMENTO:
O primeiro passo é Acreditarmos no sofrimento do doente!
Seguidamente, envolver o doente no seu tratamento. Cada sujeito activo compreendendo e colaborando na responsabilidade do Sucesso / Insucesso.
Deve frisar-se que se trata de uma doença crónica e que o tratamento visa, não a Ausência de Sintomas, mas o seu Controlo.
Também teremos que estar preparados para Adaptar os esquemas terapêuticos à evolução das queixas.

É sempre um tratamento Individualizado e consta de:

1 - Tratamento Farmacológico:
A aminotriptilina, em doses baixas ( 10mg - 25mg/ dia), a fluoxetina, o diazepan e outros miorrelaxantes, ansiolíticos, indutores do sono, antiepiléticos, (o topiramato em doses até 75mg/dia tem-se mostrado útil), assim como alguns analgésicos como o paracetamol, com e sem codeína, os salicilatos, o tramadol, revelam alguma eficácia.
Os corticoesteroides, devido aos efeitos secundários e à quase ineficácia, são de Evitar!

2 - Tratamento Psiquiátrico:
O apoio psiquiátrico nunca deve ser de descurar, sempre que se revele necessário, sob a orientação de médico psiquiatra com experiência em dor.

3 - Psicoterapia Coadjuvante:
Particularmente útil nas áreas Cognitiva / Comportamental:
Aprender a viver com a doença e aceitar as suas limitações, assim como aprender a lidar com o stress.
Técnicas de Bio-Feedback têm-se mostrado úteis.

4 - Fisioterapia:
Apenas quando individualizada e efectivada por técnicos com experiência nestes doentes.

5 - Exercício Físico:
Fundamental, se adaptado às condições do doente.
Aconselha-se, essencialmente, a caminhada e natação (sem grande esforço), em ambientes agradáveis e tépidos.
É importante não descurar o Exercício Físico, porque a inacção para que tendem os doentes de Dor Crónica, acarreta consequências psíquicas e físicas como Depressão, Obesidade, Atrofia Muscular, Osteoporose, atralgias, tudo situações que acabam também e por si só, gerar doença.

9 - A FIBROMIALGIA E O DOENTE:
Como em qualquer outra doença dolorosa crónica e tendencialmente incapacitante, estes doentes apresentam-se muito queixosos, com níveis de auto-estima baixos, angustiados, revoltados, não compreendidos e uma história de grande dificuldade em gerir a sua vida familiar, laboral e social.


A FAMÍLIA:
Factor primordial, para o melhor e para o pior, na evolução destes doentes.
Muitas vezes não colabora, acusando o doente de "preguiçoso", "piegas" ou "desequilibrado" emocionalmente.
Normalmente, após elucidado, o agregado familiar passa a colaborar, sendo de grande importância, pelo suporte que pode dar ao doente.
Por vezes, a própria família precisa de Apoio.

O TRABALHO:
Devido às características da doença, a rentabilidade baixa, o que, muitas vezes, acarreta acusações dos colegas e superiores hierárquicos, criando um meio hostil.
Devem-se diminuir os níveis de Stress do doente, respeitando os seus Ritmos de trabalho e/ou mudando de Actividade profissional.

A SOCIEDADE:
Normalmente, a incapacidade inerente à doença implica uma marcada diminuição da quantidade e qualidade da Vida Social destes doentes, assim como um aumento de gastos com o consumo de Serviços de Saúde e da Segurança Social, com faltas ao trabalho e Reformas precoces.
O Estado português ainda não facilita a estes doentes os direitos que lhes deveriam ser atribuídos, de acordo com o reconhecimento da patologia já existente, revelando-se duplamente penalizante para o doente e agregado familiar.

A EQUIPA DE SAÚDE:
É fundamental Acreditar no sofrimento do doente, Ser Solidário, Não desistir, estar Disponível e Atento, Aprender e Ensinar e Nunca esquecer que o doente de fibromialgia também é passível de desenvolver outras doenças.

O MÉDICO DE FAMÍLIA:
Cremos ser a base da Gestão destes doentes, porque os conhece individualmente desde há longos anos, conhece as famílias e tem a sua confiança, o ambiente laboral e os factores de risco individuais.
São factores fundamentais para um adequado Diagnóstico Diferencial, Seguimento e Intervenção Terapêutica, assim como pela proximidade e acessibilidade ao doente.

AS ASSOCIAÇÕES DE DOENTES:
Fundamentais na Divulgação da Doença, quer na Sociedade em geral através dos Média, quer na Classe Médica, através da Organização de Eventos Científicos, de que esta Revista é um exemplo.

Muito importante, também, no Apoio Individual ao doente, quer através de troca de experiências, quer através da Orientação para os locais mais idóneos, onde procurar Tratamento, assim como organizações de Sessões de Esclarecimento individual e colectivo, orientadas para os doentes, familiares e Sociedade em geral.

Fundamentais, enquanto Grupo de Pressão sobre a Classe Médica, Órgãos de Soberania e todos os Cidadãos, no sentido de uma melhor compreensão e uma Resposta Mais Eficaz Aos Doentes!

* Médico (Assistente Graduado de Medicina Geral Familiar), Presidente do N.A.F. (Núcleo de Apoio à Fibromialgia)