sábado, março 31, 2007

Os Pequenos Ditadores *


Gostaria de lançar aqui um tema que, não sendo muito novo, se pode considerar uma nova patologia social, um fenómeno social alarmante, que diz respeito à “criação” de filhos agressores e tiranos no seio das famílias .

Mas, é preciso fazer, antes de mais, uma ressalva - a maioria dos jovens não são tiranos, os pais geralmente educam correcatmente os seus filhos e transmitem-lhes bons padrões educativos.

Ao abordar o problema dos filhos tiranos não pretendo fazer crer que tudo é um desastre. A maioria das famílias funciona bem.


Contudo, vemos cada vez mais o aparecimento de “pequenos tiranos”, filhos únicos (ou os mais novos cujos irmãos já abandonaram a casa) que impõem aos pais as suas próprias leis. Caprichosos, desobedientes, desafiadores e que não aceitam a ser contrariados ou a não satisfação dos seus desejos. A tirania infantil reflecte uma educação familiar e ambiental distorcida.

“A criança tirana destrói-se a ela mesma pelo seu egocentrismo desmedido, mas, além disso, origima nos outros a depressão, a ansiedade e a ira (Pleux, 2002)”.

Hoje em dia, os meios de comunicação já apresentam dados nesta área – há fugas de casa, violência em diversos graus, absentismo escolar, roubos, enganos…

Genericamente não são adolescentes que possam ser definidos como delinquentes – a maioria deles não chega a agredir os pais, pelo menos fisicamente. Muitas vezes abandonam os estudos e não têm obrigações nem participam em actividades ou relações interactivas.

As ‘causas’ da tirania, residem em:

Uma sociedade permissiva que ensina às crianças os seus direitos mas não os seus deveres. Para não os “traumatizar” é-lhes permitido e oferecido tudo o que os seus pais ou avós não tiveram. Há falta de autoridade.

Meios de comunicação, com destaque para a TV, que inunda as crianças com filmes que convidam à violência grtauita. E onde se publicitam brinquedos que deixam nas suas mãos a capacidade de decidir “ a vida do outro”. A televisão é também utilizada por muitos pais como baby-sitter.

A grande mudança que se registou no modo de vida. As crianças passam muito tempo sós. O bom consiste em fazer tudo cada vez mais depressa, vivemos em contra-relógio. Não há tempo para ouvir, contar histórias ou brincar com os filhos. Os pais estão demasiado cansados e os filhos vivem com stress e agendas carregadas de actividades escolares e extra-escolares .

Uma estrutura familiar que se modificou. As famílias têm só um ou dois filhos aos quais não podem faltar os ténis ou as calças “de marca” acabando por fazer cedências aos filhos como forma de evitar conflitos e com a desculpa de não quererem que eles se sintam inferiores aos colegas e amigos. Pouco se contraria os “reis da casa” que continuarão a sê-lo toda a vida. Nas famílias em que houve uma separação, cai-se facilmente na tentação de “cativar” os filhos com presentes caros ou cedências que evitem conflitos.

Que alguns pais não façam o seu trabalho. Parecem ter medo de amadurecer, de assumir o seu papel. É tarefa dos pais falar com os seus filhos, ouvi-los e preocupar-se com eles, conhecer com quem e por onde andam.
Há pais que não só não se fazem respeitar como menosprezam a autoridade dos professores ou de outros cidadãos quando estes, em defesa da sã convivência, repreendem os seus descendentes ( veja-se o crescente número de casos de agressões a professores…).

A minha convicção é que temos de educar os nossos jovens ensinando-os a viver em sociedade, captar e sentir afecto, formá-los com base na empatia e transmitir-lhes valores. A empatia, a capacidade de “pôr-se no lugar do outro”, é o antídoto da violência.

Precisamos de motivar os nossos filhos sem o estímulo oco do consumismo e da insaciabilidade.
Educá-los com base nos seus direitos e deveres, na tolerância, na partilha, marcando regras e sabendo dizer “Não”.

_________________________________________________________
* Síntese a partir do livro “O pequeno Ditador”, Javier Urra, A Esfera dos Livros, Fevereiro 2007

terça-feira, março 20, 2007

ALAMAL - Destino de eleição entre Alentejo e Beiras


Este é um dos locais em que no Alto Alentejo se está mais perto do céu.
Na areia da praia ou na relva próxima, sob a sombra frondosa de árvores que têm irmãs nos jardins da antiga Quinta do Alamal, com a calma repousante do Tejo em frente, sempre igual e sempre novo, guardado aqui pela majestade da fraga onde se ergue o castelo de Belver, com o comboio da Beira Baixa a distrair-nos de quando em quando, este é o espaço de eleição para o anti-stress.

A Câmara de Gavião adquiriu há anos a Quinta do Alamal onde construiu o 'Centro Integrado de Lazer' (CIL) cuja exploração concessionou ao Inatel, que assume uma renovada vontade de fazer deste local um dos seus pólos privilegiados de desporto-aventura.




Para tal, acaba o Inatel de concessionar toda a animação e actividades de desporto ao 'Clube Trilho' que desenvolve já reconhecido trabalho nessa área, explorando cumulativamente o bar-restaurante da praia fluvial.
Para fazer praia, praticar desportos de natureza e de aventura ou participar em passeios de índole cultural, o Alamal é destino privilegiado que oferece ainda uma instalação hoteleira com a qualidade do Inatel.

Também os jardins do Alamal são magníficos, apresentam-se em declives com tanques e a sua flora é muito peculiar. Estes jardins integram-se no CIL do Inatel mas a sua visita é livre e existe ainda um encantador passeio pedonal à beira Tejo.

Perca-se e encante-se no Alamal, a única praia fluvial com bandeira azul no sul do país, distinção que partilha com uma outra única praia fluvial, essa em Trás-os-Montes.

Tais: Os Têxteis de Timor-Leste



A partir de um texto de Maria José Sacchetti, Arquitecta, Profesora auxiliar da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa.

A ilha de Timor, longa e estreita, com a forma semelhante a um cro­codilo, segundo uma das lendas da tradição Maubere, está inserida no arquipélago indonésio, situada a menos de 500 quilómetros da Austrália.
No caso específico de Timor-Leste, que ocupa metade da ilha, torna-se muito difícil identificar e territorializar os vários grupos étnicos, com uma grande diversidade cultural e linguística, provenientes das antigas guerras internas e das consequentes integrações de subgrupos em outros grupos.

É preciso entender que apesar de Timor-Leste se encontrar dividido em treze distritos, as diferentes línguas são cerca de quinze e distribuem-se de uma forma esparsa e errática por todo o território. Tal diversificação é transposta para os têxteis, em termos de cores, motivos e técnicas usados na tecelagem.

O significado dos têxteis

Os têxteis que saem dos teares não são destinados prioritariamente a serem usados, excepto quando já estão gastos ou se destinam a cerimónias que celebram as várias fases da vida de um indivíduo: apresentação de um recém-nascido, dia de iniciação na caça de um jovem guerreiro, casamento, enterro, etc.. Ou ainda em certos rituais que se prendem com as tradições do grupo: inauguração de uma casa, p.ex. Em todas estas cerimónias está implicado o indivíduo, a linhagem, a família e a etnia ou grupo em que ele se encontra inserido, e é aqui que os têxteis ganham uma importância relevante, como produtos de troca nas relações sociais e eco­nómicas, assegurando a sobrevivência da linhagem e do grupo.

As fibras e as tingiduras

Os vários processos de fiação e tecelagem têm lugar essen­cialmente durante a estação seca. São actividades femininas, muito valorizadas pelos membros masculinos e femininos de cada grupo, inteiramente conscientes da importância dos têxteis nas relações mencionadas anteriormente.
A principal fibra utilizada é o algodão, e onde ele é cultivado a fiação manual é ainda comum, especialmente para têxteis que possuam um carácter especial.

O algodão comercializado e fios pré-tingidos encontram-se com facilidade nos mercados regionais, assim como corantes químicos. A cidade de Lospalos, por exemplo, é conhecida pela sua produção têxtil, utilizando o fio comercializado e corantes químicos.
As fibras sintéticas têm, consistentemente, feito a sua intrusão nos têxteis, e hoje é possível adquiri-las na maioria dos mercados regionais: rayon, acetato, acrílico e polyester, para além de fios metálicos, na maioria dourados (antigamente obtidos, nalgumas regiões, a partir da fundição de moedas holandesas).
Contudo, as tingiduras naturais são muito usadas em toda a ilha, sendo o vermelho a cor dominante. A explicação para este facto não é clara. Embora existam alguns autores que apontam para uma inspiração a partir do tom das buganvílias em flor durante a estação seca, esta cor, para muitas comunidades timorenses, está tradicionalmente associada à vida, ao sangue e à coragem.
Timor tornou-se conhecido pelas cores vivas dos seus têxteis, embora essa não seja uma característica comum em todo o território de Timor-Leste.

Os teares tradicionais


O fabrico das armações, onde é executada a técnica do ikat e teares, está geralmente a cargo dos homens. Complexos de serem entendidos no seu funcionamento, possuem, na esmagadora maioria dos casos, um aspecto muito rudimentar.
Uma vez os fios paralelos uns aos outros, a tecedeira inicia o seu minucioso trabalho de atar, cobrindo pequenas porções de vários fios, de maneira a formar um desenho, só visível bastantes dias mais tarde, após o tingimento e novo esticamento das meadas na teia.

Os teares, bem mais complexos nos seus componentes, mas igualmente rudimentares, são teares de cintura. Estes obrigam as tecedeiras a trabalhar sentadas no chão de pernas estendidas, geralmente em esteiras por elas elaboradas, esticando o próprio tear e a teia, com a tensão exercida pelo seu corpo, atra­vés de uma cinta que ela faz passar nas costas, na zona lombar.

A tecelagem é feita por tecedeiras que vivem nas comunidades locais, onde elas e as suas famílias são responsáveis por todo o processo, desde a preparação dos fios à operação de atar as linhas para formar o desenho, ao tingimento dos fios culminando com a tecelagem dos panos. A produção inclui muitas vezes a combinação das técnicas de ikat e sotis (passagem suplementar na teia).

Os diversos tais

Embora o vestuário ocidental seja largamente usado no dia-a-dia, os têxteis locais ainda têm um significado muito importante nos rituais que celebram as mudanças das várias fases da vida ou o status social, nos rituais anímicos ou outros que se prendem com a agricultura. Nas cerimónias, os homens vestem panos rectangu­lares, denominados "tais mane", compostos por dois ou três painéis cosidos entre si, que envergam à volta da cintura, e as mulheres vestem "tais feto" semelhantes, mas cosidos numa forma tubular, para assentar justo ao corpo, usados à volta da cintura ou atravessados na zona do peito, apenas com uma prega em baixo para permitir o movimento. Pequenas faixas (salendas) são muito populares como elementos de troca ou como presentes. Ambos os tais, para além de serem usados nas cerimónias, rituais religiosos e festas, constituem igualmente presentes muito apreciados para dar e trocar entre os membros da comunidade.

Os motivos tradicionais

Os padrões e os motivos têm um grande significado para os timorenses, tanto para aqueles que tecem como para os que vestem os tais.
Por toda a ilha, os motivos continuam a ser tradicionais na sua origem. Estes evocam maioritariamente os animais e elementos da natureza, directamente associados aos mitos e aos ritos tradicionais: figuras antropomórficas com os braços e as mãos esticados são comuns, assim como representações zoomórficas de pássaros, galos, crocodilos, cavalos, peixes e insectos de água. Plantas, árvores (origem da vida e centro do mundo), e folhas, também surgem de uma forma consistente. Os desenhos geométricos, semelhantes a ganchos e losangos, localmente conhecidos por kaif, são de um modo geral interpretações da cultura Dong-Son.
Estes motivos foram todos herdados dos antepassados, e, tal como as receitas, transmitidos de mãe para filha. Os desenhos são sistemas de reconhecimento de uma linguagem cultural e representam os mitos ancestrais de todo o grupo e os seus símbolos. Mesmo quando estes motivos não podem ser associados a qualquer simbologia cultural, representam sempre mais do que uma mera decoração, como por exemplo o prestígio do indivíduo que enverga o tais, a sua posição na escala social, etc.

Os tais de Timor-Leste

Em Díli, os tais têm um cariz mais comercial e surgem com cores vivas e faixas muito estreitas em ikat, intercaladas com muitas outras estreitas riscas em cores sólidas. São usados o fio de algodão importado e corantes químicos, mas o processo meticuloso de elaborar o desenho através do atamento das linhas e tingimento do padrão nos fios, segue o método das vilas mais remotas.

Possivelmente devido à influência portuguesa que acabou por deixar marcas relevantes na vivência nesta metade da ilha, os motivos florais de inspiração europeia, assim como os de inspiração religiosa, são os mais evidentes, suplantando os motivos do gancho e do losango que encontramos em Timor Ocidental.

Fonte: http://www.turismotimorleste.com/

quarta-feira, março 14, 2007

CHEGOU A PRIMAVERA

CHEGOU A PRIMAVERA !


Estamos quase, quase na estação do ano que eu mais gosto. Até parece que ela já chegou mas receio bem que não seja ainda para ficar...

Os dias têm estado luminosos e a temperatura atinge os 20/21º, muito agradáveis.
Até já chegaram as andorinhas!...

Estive no Alentejo profundo e estava tudo lindíssimo - o céu muito azul, os campos muito verdinhos e as flores a "explodir" por todo o lado, numa paleta de belos matizes.

Acordar naquela paz, com o chilrear dos pássaros e o cantar do meu galo, pode parecer um lugar-comum, mas é mesmo delicioso e faz esquecer completamente o rebuliço da grande cidade!...

Aceitem o meu conselho, aproveitem esta altura do ano para conhecer melhor o Alentejo, antes que o estraguem, e percam-se num desses "turismos rurais" (alguns ainda são um segredo bem guardado) para um fim-de-semana em comunhão com a natureza.

Sugestões: 'Monte do Chora-Cascas', 'Herdade da Matinha', 'Monte da Fornalha' e tantos outros. Mas, o que tem piada mesmo é fazer as nossas próprias descobertas e contar o segredo só aos amigos...